
America Singer é uma cantora de casta cinco (a casta de todos artistas) que sonha em se casar com o amor da sua vida, Aspen um garoto de casta seis e viver feliz para sempre. Mas tudo muda quando ela é convocada para se inscrever n'”A Seleção”, que é uma competição para decidir quem vai se casar com o Príncipe Maxon e se tornar a mais nova princesa de Illeá. America não queria entrar nesse concurso, mas não é como se ela pudesse negar o dinheiro que sua família teria se ela conseguisse entrar e após Aspen a fazer prometer pelo menos tentar concorrer ela não tem nenhuma escolha além de se inscrever, e o que America menos esperava acontece: ela é selecionada e agora vai ter que lutar contra 35 garotas pelo coração de Maxon, mas será que ela vai conseguir deixar Aspen, seu grande amor, para trás e se apaixonar pelo príncipe?
Ah, esse livro me deixou com sentimentos totalmente embaralhados, por um lado foi extremamente divertido ler esse livro, mas por outro eu acho ofensivo classificar ele como uma distopia. Vamos falar do ruim primeiro, esse livro é chamado como uma distopia porque ele se passa em um futuro distante em que o mundo já passou por várias guerras e mudou totalmente criando esse novo país criado Illeá. Ok, tudo bem, mas agora me diz qual é o sentido das castas? Eu tive o mesmo problema com Divergente, autores parecem pensar que distopia é simplesmente criar um universo na cabeça e aplicar ele, mas distopia tem um sentido e o sentido é: extrapolar algo da nossa realidade atual e mostrar como seria no futuro. Dentro desse sentido as castas são completamente inúteis, veja bem, no livro quem nasce como a America na casta 5 tem que ser um artista, a pessoa não tem escolha e o mundo atual não funciona assim, sim pessoas que são criadas com pais médicos por exemplo tem grandes chances de se interessarem pela carreira médica mas elas não são obrigadas a isso, e também não existe o menor sentido de porque o governo iria querer que as coisas fossem assim, se ainda fosse com serviços relacionados a sobrevivência/funcionamento da sociedade como comida, construção, serviços públicos eu poderia entender, mas agora com artistas? Porque é obrigado a existir tantos artistas em uma sociedade que mal consegue se sustentar?
Outra coisa que também não fez sentido foi com relação a informação do controle de natalidade, foi dito no livro que as castas mais elevadas (e consequentemente mais ricas) tem conhecimento de como controlar o nascimento de vários filhos, mas outras castas mais baixas (como do 5 ao 8) não é disponibilizado o conhecimento de como não engravidar. Eu não entendo porque em um país em que boa parte da população esta passando fome o governo iria escolher não distribuir essa informação e em nenhuma parte do livro foi dado um bom motivo. E também, as pessoas dessa distopia continuam sendo seres humanos, se as pessoas não tem acesso a camisinha o mais provável é de que esse país sofreria de uma epidemia de alguma doença sexualmente transmissível.
Ainda outra falha desse mundo distópico foi o fato de que obviamente o país é governado por um rei, tendo um sistema monárquico em que seu descendente é automaticamente o descendente do trono, e durante o período que a America fica no castelo ela sempre fala do “rei e seus conselheiros”, mas quando ela esta na sua cidade ela fala em um prefeito, agora me diz em que tipo de sistema monárquico existe um prefeito? Nenhum, presente em nenhuma parte da história até os dias de hoje, então era de se esperar uma explicação da Kiera para se ter um rei e um prefeito né? Mas é claro que não tem.
Outra coisa que me chamou a atenção como algo ruim da história, mas não relacionado a distopia, foi o jeito com que as garotas foram retratadas no livro. Eu não me considero nenhuma feminista, mas eu não consegui não ficar incomodada com o retrato feminino que foi passado nesse livro. Veja bem, por um lado nos temos America, nossa protagonista que não gosta de joias, maquiagens e vestidos exagerados, que fica mais feliz ao usar um par de calças jeans do que um vestido de festa cheio de brilhos. Por outro nos temos Celeste, uma garota sexy, que adora decotes, vestidos brilhosos e joias, o completo oposto de America. E eu não tenho problema nenhum com o estilo de nenhuma das duas, pessoas diferentes tem gostos diferentes, mas a mensagem que esse livro passou foi que garotas que usam decotes e gostam de se vestir para chamar a atenção são as garotas más e que garotas que preferem se vestir de um jeito mais simples são as boas, é um slut-shaming sutil, mas que não deixa de estar presente e me decepcionou bastante já que esse é um livro voltado para adolescentes.
Bom, e apesar de tudo isso que eu falei de ruim do livro eu ainda consegui terminar ele, aproveitar algumas partes e decidir continuar com a série. O livro é totalmente focado na Seleção, no dia a dia do castelo e no romance, o que faz a leitura ser super rápida (eu não levei nem dois dias lendo ele) e a escrita da Kiera te faz entrar na história.
Sobre nossa personagem principal, America, eu gostei bastante dela na maior parte do livro, com sua personalidade explosiva e sua honestidade bruta foi fácil torcer para que ela se desse bem no castelo. Os outros personagens não tem muito desenvolvimento, as outras garotas da seleção são mostradas de forma bem superficial e somente em momentos oportunos para preencher as páginas, se todas America não falasse com nenhuma delas não iria mudar a história, e o príncipe Maxon é basicamente o perfeito interesse amoroso, eu já disse na minha resenha de “O Príncipe” que ele se parece muito com Edward, de “Crepúsculo” por ser uma espécime perfeita.
Eu recomendo esse livro para quem está buscando por uma leitura que não seja necessário usar nenhum neurônio, é um livro só para relaxar mesmo e se você encuca com as falhas que eu citei acima fique longe. O livro foi publicado aqui no Brasil em 2012, pela editora Seguinte.